domingo, 31 de outubro de 2010

COMO UMA ONDA

Passados os dias de euforia, que vivemos, antes e durante as eleições em nosso país, chegou à hora da reflexão.
Nosso querido, Brasil tem vocação para a alegria.
Todos afirmam que é um País maravilhoso.
As forças que regem o nosso universo privilegiaram esse pedaço do planeta Terra com o que há de melhor. A Amazônia, o rio São Francisco, o Pantanal, o Corcovado,   a Ilha de Marajó e tantos outros recantos que nos fazem ter orgulho  de sermos moradores deste País.
Brasil é sinônimo de felicidade!
Ser brasileiro é um estado de espírito!
Aqui não há barreiras religiosas e nem étnicas.
Região norte? Região Nordeste? Região sul? Região centro oeste?
Existem apenas para termos uma orientação geográfica.
Quando viajamos, quando estamos nas praias e nas ruas ninguém sabe quem é quem!
O brasileiro está sempre junto e misturado.
Problemas? Temos muitos! Nem precisamos relacioná-los.
São tantos e complexos. Complicados e assustadores, quase desanimadores.
Porém, todo brasileiro sabe que, a cada dia que nasce; renasce a esperança de que a nossa Terra nunca irá perder o seu esplendor.
Nós brasileiros estaremos sempre lutando, colaborando, contribuindo para que em nosso País possamos dormir com as janelas abertas.
Portanto, meus amigos, passados os dias de eleição chegou à hora da verdade!
Não podemos continuar nos dividindo através de ideologias que só farão mal a todos nós.
Vamos  mergulhar numa onda VERDE E AMARELO!
Essas são as cores de nossa Pátria mãe, que nem sempre é tão gentil com seu povo!
Mas é a nossa TERRA!
Vamos à luta companheiros! Vamos colaborar! Vamos ficar atentos! Vamos contribuir! Vamos cobrar! Vamos acompanhar as ações dos que receberam o nosso VOTO!
Cada um ao seu modo. Cada um fazendo a sua parte.
Unidos!
Mãos dadas! Sem divisões nem partidos para não ficarmos “re-partidos”!

                                                 Edison Borba
                                                          

GAROTOS.

“Garoto maroto” ... canta a Marrom” com sua voz grave. Vem a Baby do Brasil e completa “menino do Rio / dragão tatuado no braço”. E outros cantam “menino bonito, menino bonito ai”.
E são tantos os nossos meninos. Tantos os  nossos garotos. Brancos, negros, dourados, mulatos e ruivos. Cabeças raspadas ou cabelos compridos. Alguns cacheados ou enrolados. Topetes espetados. Mentes livres. Camisas abertas. Peitos a mostra. Bermudas coloridas.
Correndo livres atrás das pipas, das ondas, das nuvens, dos sonhos!
Meninos trabalhadores. Garotos estudiosos. Moleques funkeiros.
Jovens sonhadores querendo alcançar os céus. Brincando com  asas deltas. Namorando as “minas”. Pilotando motos. Exibindo seus corpos nas areias das praias.
Garotos homens, às vezes sérios outras vezes crianças.
Meninos – garotos - crianças.  Pequenos homens.  Responsáveis sem a saberem o que significa responsabilidade.
Às vezes irresponsáveis, por nunca terem recebido e aprendido o valor da seriedade. Meninos que se formam homens maus. Mas, foram os maus-homens-pais, que assim os fizeram. Meninos armados e mal amados, fingindo “brabeza” e fazendo proeza mostram destreza no gatilho do mau.
Crianças meninos. Garotos homens. Fujam das drogas. Não brinquem com “crak”. Não cheirem! Não bebam! Não morram!
O mundo precisa de vocês:  alegres, risonhos, inconstantes, apaixonados e encantados.
Meninos sonhadores mergulhem no mar. Peguem as ondas, mas não entrem nas ondas de nem nos altos baratos.
Dancem a alegria  nas discotecas,  ruas e quadras. Estudem! Leiam! Aprendam! Vivam!
Nas escolas, nas fábricas, nas ruas e  praias construam seus castelos! Salvem suas princesas! Sejam heróis! Conquistem o mundo!
Meninos marotos, garotos felizes não doem seu sangue por causas perdidas.
Não brinquem com armas. Não arrisquem suas vidas.
O mundo precisa de vocês – homens!
                                   Para Rafael – morto no túnel Zuzu Angel
                                      Edison Borba


sábado, 30 de outubro de 2010

SAUDADE

Desde que ele se foi, minha casa  está mais vazia.   Caminho pelo espaço que era ocupado por ele e só encontro marcas. As paredes, o chão e o   tapete estão impregnados da sua presença. Minhas noites tornaram-se tristes. Assistir filmes ou acompanhar os capítulos da minha novela preferida  perderam completamente o sentido. Lembro-me de  ter deixado nele as marcas do meu corpo.  Foram anos e anos de companheirismo silencioso. Mesmo quando farelos de pão, biscoito ou pingos de café e guaraná o maculavam, ele jamais reclamou.
Agora, sozinho vejo o quanto ele era importante para mim! Sobre ele já derramei meu pranto e no verão deixei marcas de suor que ele sempre exibiu sem nunca reclamar. Mesmo quando eu tentava ocultar sob um pano aqueles vestígios de nossa relação, ele nada dizia.
Quando minha casa era invadida por convidados que se jogavam sobre seu corpo ou até mesmo colocavam os pés sobre ele, sua fidelidade a mim o mantinha firme.
Comecei a perceber o seu sofrimento, ao ouvir gemidos sutis, quando  a faxineira o empurrava de um lado para o outro. Eram seus pés cansados que há muitos anos suportaram o peso de muitas vidas que nele se apoiaram. Mas, meu coração sangrou, quando vi em seu corpo uma ferida aberta, que deixava ver o seu interior. Imaginei o quanto ele deve ter sofrido quando no escuro eu me apoiava nele e muitas vezes até adormecia em seu colo embalado pelo som de minhas músicas preferidas.
Estou contando os dias para o seu retorno. Não vejo à hora de vê-lo chegar trazido pelas mãos dos mesmos homens que o levaram.     Chegará totalmente renovado.    Novas cores, novo enchimento, pés tratados e então reiniciaremos mais uma longa jornada de um doce, amável e feliz relacionamento.
Obrigado meu SOFÁ! Estou morrendo de saudade!
                                            Edison Borba

ELIS ... ELA ... SE FOI ... REGINA!

Madrugada, TV ligada no canal dois. Quantas pessoas têm insônia e assistem a TV Educativa? Não devem ser muitas. Eu sou uma delas, e graças à falta de sono, pude vê-la e revê-la – Elis Regina.
Um programa feito de colagens, com diversos momentos deste “monstro” da música popular brasileira.
Ela canta, chora , ri, coloca a mão no rosto e fala dos seus sentimentos ... “meu coração tem uma dor que não cabe no mundo” ... e lá está ela cantando “Águas de Março”, ao lado do inesquecível Tom. Depois numa mesa de bar canta Iracema, com aquele sotaque  paulistano, do pessoal  do bairro do “Bexiga”, acompanha Adoniran Barbosa.
- “Iracema você “travessou” contra mão” – é um dos versos deste drama musical, que conta a história da jovem que às vésperas de se casar atravessou   a    São João na contra-mão. Morre atropelada, e seu noivo só tem de recordação o sapato desta mulher, pois até o seu retrato ele perdeu.
Somente Adoniran Barbosa sabia escrever versos engraçados para contar uma história triste. E somente a Regina sabia interpretar com graça esses versos, sem torná-los ridículos. Na sua voz essa história é simplesmente comovente.
Agora ela aparece erguendo os braços e gesticulando – canta “Gracias a la Vida”. Canta com o corpo, com a voz, com os braços. Diferente de Mercedes Sosa que tem uma interpretação mais contida.porém, a música mantém todo o seu vigor. “Gracias a la Vida” é um hino, como tantos outros que a Argentina Mercedes soube   cantar durante a sua luta contra a discriminação do povo latino americano.
A seguir Elis aparece vestida de baiana cantando “Aquarela do Brasil”.
Era sem dúvida nenhuma uma mutante. Conseguia passar da tragédia, para um samba exaltação mantendo a força das letras que só ela soube  recitar, tendo a música apenas como pano de fundo.
Mas meu coração bate forte, quando ela aparece na telinha, toda de preto e solta a voz em “O Bêbado e a Equilibrista”.
           - Caía a tarde como um viaduto ...
              A lua tal qual a dona de um bordel,
              cobrava a cada estrela nua um brilho de aluguel ...
              Que sufoco!
E nesta hora lembramos Henfil, a Graúna e o bode Orelana.
Que saudades do Pasquim! Que saudades da Elis!
Ela era, sem dúvida, uma mulher encantada, sofrida, confusa e apaixonante.
No palco – uma gigante imbatível!
             - Dança na corda bamba de sombrinha a esperança equilibrista ...
Somente ela soube dizer esses versos com emoção. E para entender essa emoção, é preciso ter vivido os anos da ditadura. Anos dos generais. Anos difíceis e sangrentos.
             E agora ELA surge cantando “Maria ... Maria”
             ... uma gente que ri quando deve chorar e não vive apenas agüenta ...
Versos tristes, mas que ela canta com uma alegria irônica1
             ... mas é preciso ter raça é preciso ter graça ...
             ... e ter a estranha mania de ter fé na vida ...
Agora ELA fala: - sou uma pessoa medíocre e tremendamente encabulada. Sorri, e começa a cantar uma antiga música carnavalesca:
              ... é com esse que eu vou ...
Nessa hora o seu sorriso é de uma menina encantadora !
              ... é com esse que eu vou sambar até cair no chão ...
Em outra cena seu rosto muda. O sorriso de menina desaparece e surge uma mulher sofrida :
- “eu não mudei ... foi meu disco que mudou ... minha vida está muito melhor ...
Se a sua vida estava melhor, eu não entendo a droga que a levou a morte!
Agora ela fala do bife acebolado que só a sua mãe sabia fazer, e da saudade que ela sente da sua casa .
O programa é uma colcha de retalhos. Foi editado com pedaços de entrevistas e shows que ela fez durante a sua tão curta carreira. E nesse emaranhado surge um cidadão de rua, ao qual um jornalista solicita uma pergunta para a Elis, e ele, sem pestanejar, diz:
                - “Elis você tem um sorriso tão bonito, eu gostaria de saber se seus dentes são naturais
                    ou se você usa dentadura?”
Ela gargalha, mas como sempre, repete o gesto de por as mãos no rosto demonstrando que continua a ser uma gaúcha tímida.
                  -“Estamos aqui de passagem” – ela diz ao jornalista
                  - “Isso aqui é um momento. A gente vem pra cá para melhorar. Eu acredito que voltamos”.
                  - “Se fosse só isso, nossa vida não teria sentido”.
Será que ela acreditava nessa teoria? Será que foi por esse motivo que não se preocupou em preservar a sua vida?
              Responde, e começa a cantar: “Manhã de Sol” – uma canção que fala do viver ...
... “é de manhã vem o sol e os pingos da chuva que ontem caiu
                                      ainda estão a brilhar” ...
Sublime! Sua voz cristalina nos faz sentir o brilho do sol  sobre as gotas que a chuva deixou ...
 - ... “um dia a gente acorda e o sonho acaba” ... é outra de suas frases, e começa a cantar
“Trem Azul” ... eu quero é pegar o trem e nunca ficar na estação. Não quero ver a vida passar, eu quero é ir  junto com o trem, não importa para onde ele vá!
Ela interrompe o jornalista e diz estar machucada, cheia de inseguranças, mas está viva, e fala dos filhos e diz:  ...” valeu bicho!”
Vou dormir pensando nesta Rainha Regina Elis que encantou e ainda nos encanta, quando a ouvimos cantar.
Em minha cabeça vem a letra de um dos seus sucessos:
                  ... “eu sou cantador, canto a vida e morte, canto o amor!” .
                                                                                                                     Edison Borba