sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

UMA HISTÓRIA MUSICAL

Essa é para os que curtem o mundo musical.

Eu levava uma vida desregrada. Um dia meu pai me disse; - filho você é a ovelha negra da família! O que ele não sabia é que a alegria do pecado às vezes toma conta de mim. É isso aí! Pensei, “yesterday” será outro dia! E como eu não gosto que conduzam a minha vida, embarquei numa correnteza. E me deixei levar pelo mundo como se fosse uma flor. Mas deixei minhas pegadas marcadas no barro da estrada, junto com a dos bois, das cabras e dos porcos. Na barranceira de um rio, sentado sob a sombra de um ingazeiro, tive um palpite: não sou um lunático e não fui eu que matei a Joana d’Arc. Não sou eu que tô pirando, e não vou confessar aquilo que não fiz. E quanto ao que fiz, como dizem os franceses: “Non, Je ne regrete rien!”. Fechei os olhos e sem receios “I say a little prayer”.
Levantei! Mochila nas costas e sai caminhando. Afinal, garotos nunca dizem não pra vida! E ninguém vai me fazer parar de olhar o mundo do meu modo. Tenho que conservar a paz na minha alma para tentar ser feliz. Aquele tempo estava ficando pra trás. Eu nunca tinha sido feliz ali! Eu preciso mesmo é construir minha própria vida!
Não quero mais pensar nesses homens sórdidos. “São” tudo bicho escroto. Se consideram cidadãos civilizados, mas não passam de lixo. Tomara que as baratas saiam dos esgotos e entrem em seus sapatos.
Saí pela estrada, porque quando eu não sei dizer nada, então eu escuto. Deixo falar. Se eu não entender eu não vou responder.
E não vai adiantar me chamar, porque eu não vou voltar. Eu não quero nada que eles me ofereceram: teatro, cinema e outras coisas. Eu prefiro ficar no meio do povo espiando, esperando um grande encontro. “I believe” !
Queria mesmo, era encontrar um mensageiro natural, que surgisse do nada e da mesma forma que uma igreja significa para os católicos, ele  me indicasse um sinal de glória!
Quero matar meu desejo de tomar um banho de cheiro. Encontrar uma colombina ou um beija-flor e dar um beijo de amor! Não importa quem, eu quero é amar!
Mas é preciso ter”patience”e não ficar preocupado se tiver alguém me olhando pela janela lateral de suas casas. Quando alguém está perdido se ilude dizendo que já não há mais coração. Eu não me comovo mais com cemitério de bichos de estimação e nem mesmo dos que estão em extinção. É isso aí!
Eu quero é tomar mais um limão e pagodear. Sei que não é fácil! Mas a vida continua!
Na verdade eu sou mesmo é um triste pierrot mau amado! Sou um rei momo sem dono e sem trono.
Merda! Creio que estou é me tornando um clichê, querendo até que um anjo do céu apareça para me levar!
Será que já estou com saudade de ficar em baixo do meu cobertor? Saudade das frutas da minha casa (caju, manga e cajá). Será que estou com medo de ser um cavaleiro marginal?
Eu ovelha negra. Eu perdido no mundo. Eu tentando achar o meu lugar.
Acho que meu barraco desabou levando com ele os meus sonhos! “Breaveheart”!
Nada disso! Eu vou é cair no samba da vida! Sem medo de nada! Sem arrependimentos!
Sei que é difícil. Mas eu acredito em mim e o que eu quero é ser feliz!
Não vou deixar meu samba morrer! Eu vou amar! Eu vou viver!
É isso aí! A vida continua! 
Aleluia!
                                                    Edison Borba

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

JORGE


Filho de Ogum, batizado no terreiro de Mãezinha da Ladeira, Jorge era considerado em sua comunidade como um benfeitor. Apesar de apenas um simples operário da construção civil, estava sempre pronto a  ajudar seus vizinhos e amigos. Não havia laje naquela localidade que não tivesse sido levantada sem a ajuda desse homem de fé. Todas as sextas-feiras, usando uma camisa branca, impecavelmente lavada por sua companheira, Jorge caminhava até o terreiro de Mãezinha. Era ali naquele templo que ele refazia  as forças.
Com suas mãos fortes,  repicava os tambores, louvando cada orixá. Sua voz potente ecoava pelo terreiro, levando ao transe os médiuns menos preparados.
Assim era a sua vida: muito trabalho, ajuda aos amigos, louvores aos orixás, uma cervejinha vez em quando e o amor de sua companheira. Tudo podendo ser resumido em suor no trabalho, convívio com os amigos,  bater dos tambores e amor  nas noites de sexo.
Numa sexta-feira do mês de abril, próximo ao dia do seu padroeiro Ogum, Jorge esbarrou com Silene. Na realidade, eles se esbarraram quando tentavam entrar num ônibus lotado. Foi um daqueles encontros que deixam as pessoas coladas uma na outra. Silene e Jorge sentiram que uma corrente elétrica atravessou seus corpos. Foi como pisar em fio desencapado com os pés descalços. Ela, filha de Iansã, feita no santo desde garota, sentiu a atração de Ogum. Casamento perfeito. Espadas e trovões cruzaram os céus selando naquele momento seus destinos.
Desde aquele dia, não conseguiam viver mais um sem o outro. Os amigos de Jorge em pouco tempo perceberam que ele já não mais se apresentava como voluntário para erguer paredes e nem virar concreto. Em seu terreiro já não cantava tão forte e nem os tambores  vibravam com tanta harmonia. Em sua casa, as noites de amor  não aconteciam. Sua companheira começou a sentir que seu amor  não era o mesmo. Chegava tarde. Falava pouco. Seu olhar distante denunciava algo  mudado.
Numa noite, Jorge e Silene encontraram-se e, como sempre, raios e espadas cruzaram o espaço travando uma luta sensual, onde o sexo era apenas parte de um encontro que ia além deste mundo. Eles faziam amor numa atmosfera mística,  seus corpos eram apenas objetos de uso de forças que nem eles conseguiam controlar. Era fogo e ferro. Ferro e fogo. Espada e raios. Raios cortando os céus. Espadas cortando as carnes. Consumidos pela própria essência do amor.
                                                       Edison Borba


MEU PAI

Conhecido por Vadinho, meu pai, nasceu no Rio de Janeiro, no bairro de Inhaúma.
Filho dos portugueses, João e Deolinda, ele chegou ao mundo no dia 27 de julho de 1911.
Exatamente como meu avô, exerceu a função de vaqueiro e tripeiro. Mais tarde, comprou uma pequena loja e se tornou açougueiro.
Bonito, saudável e alegre “seu” Oswaldo, com W,  teve muitos amigos, namoradas e admiradores.  Vadinho,  gostava de vadiar.
Jogador de futebol, pelo time  “Laranjeiras”, causava sensação nas garotas com suas pernas e dribles.
Além de todos esses atributos, ele também foi militar da cavalaria, servindo no mais famoso grupo do exército conhecido até hoje como os “Dragões da Independência”.
Um arrebatador de corações. Fama que se manteve até 1995, quando faleceu repentinamente. Era sábado, 28 de outubro quando no intervalo de um jogo do seu querido Vasco da Gama, ele encerrou o seu expediente aqui na Terra.
De escola pouco sabemos se ele freqüentou. Porém, lia e escrevia o necessário para o seu tipo de trabalho. Vascaíno de carteirinha. Apreciador de cerveja e de mulheres. Estava sempre cercado por amigos, copos e alegria. Não desprezava a sinuca. Era figura constante nos bares onde esse esporte era praticado.
Eu  lembro desse homem, de mãos firmes e pesadas. No dedo um anel de ouro com a imagem de são Jorge. Camisetas brancas e um apaixonante bigode que lhe conferia uma grande sensualidade.
Sabia manejar com  maestria facas, serrotes e machados. Viveu sua profissão magistralmente. Vestindo uniforme branco de açougueiro, mais parecia um  médico cirurgião.
Delicadamente masculino encantava adultos e crianças. Voz agradável que sabia usar para acalentar a todos que a ele recorriam.
Esse homem  foi meu pai, ou melhor, esse homem é meu pai!
-------------- Edison Borba




sábado, 1 de janeiro de 2011

ANO NOVO DE NOVO!

Aqui estou eu, mais uma vez esperando a mudança do calendário.
Hoje, 31 de dezembro de um ano qualquer.
Quase, meia noite.
Já começo a ouvir o “pipocar” dos fogos.
Pessoas andam apressadamente a caminho da praia.
A maioria com roupa branca, para atrair boa sorte.
Muitas levam flores.
Todas estão com pressa.
Ninguém que ficar para trás.
Há anos que esse ritual se repete.
Há muito tempo eu também realizo este ritual.
Há muito tempo mesmo!
Quanto mais velhos ficamos, menos tempo nos resta.
Não sou pessimista. Não sou um cultivador da tristeza.
Sou apenas um homem capaz de perceber o quanto já vivi.
Essa matemática ao contrário é realmente incrível.
O mais passa a ser menos, como me ensinou um professor de matemática.
Quanto mais anos vividos, menos tempo para viver!
Na matemática da vida saudades e lembranças se multiplicam.
Somamos e subtraímos amigos.
Porém, aprendemos a dividir, a partilhar e a compartilhar mais.
Os fogos anunciam a chegada de mais um ano!
Vamos comemorar!
Vamos dançar e cantar!
Vamos nos renovar!
Viver é maravilhoso!

                                       Edison Borba