AS MULHERES DO JÚLIA
Júlia Kubitschek é uma escola da rede
pública estadual do Rio de Janeiro, batizada com o nome de uma professora
mineira, mãe de um famoso presidente do Brasil.
Seguindo protocolos educacionais, que
impediam meninos de estudarem nas escolas especializadas na formação de
professores alfabetizadores, o Júlia
apesar de ter sido criado quando esta lei já tinha sido alterada, quase não
recebia meninos em seu corpo discente. A
média é de trinta alunas para um aluno. O seu corpo docente também, é
composto de um número feminino bem maior que o masculino.
O Júlia é uma escola de mulheres!
Todos os que ultrapassam os portões
deste colégio, são absorvidos por um mundo feminino. Por este motivo, há um
encantamento nos corredores e salas de aula.
Nos gabinetes, há um perfume
agradável, deixando evidente a presença feminina naqueles ambientes.
O Colégio Estadual Júlia Kubitschek é
uma Unidade de Ensino diferente das muitas que existem no nosso estado. Creio que
as mulheres do Júlia, são as responsáveis pelo bom ensino e por tudo que
acontece naquele espaço, desde os jardins até as salas de aula.
Lembro-me do dia que cheguei para assumir o posto de
professor: na coordenação fui recebido por uma professora / coordenadora, que conduziu-me para a primeira turma em que eu
daria aula. Havia aproximadamente umas trinta e cinco jovens, com blusas
brancas de mangas compridas e saias azuis. Ao perceberem a presença da senhora
coordenadora imediatamente puseram-se de pé.
Confesso que minhas pernas tremiam, apesar de já estar no magistério algum tempo, eu ainda era um jovem professor e
não tinha experiência com aquele universo.
Após ser deixado a sós numa classe só
de meninas, iniciei o que seria uma aula. Pude perceber que os olhos daquelas
garotas seguiam-me por todos os cantos da sala e me avaliavam dos pés à cabeça.
O suor escorria pelo meu corpo e com muito esforço consegui repetir alguns
conceitos de Biologia.
Fui salvo pela campainha, daquele
primeiro suplício, porém ainda havia mais cinco turmas, num total de mais de
cento e cinquenta olhares femininos esperando por mim.
Em cada grupo, fui acompanhado pela
senhora coordenadora e o ritual se repetiu.
Ao final do dia, estava extenuado,
apavorado e me questionando se eu conseguiria sobreviver naquele mundo do azul
e branco.
Os dias, as semanas, os meses e os
anos se passaram e por mais de trinta anos vivi naquele paraíso chamado Júlia
Kubitschek. Tive a oportunidade, de viver grandes emoções e a aprender a valorizar
pequenas alegrias que envolve o universo das Escolas que formam Professores.
Aprendi a respeitar aquele universo,
onde fiz grandes amigos, que fazem parte da minha vida até hoje.
As mulheres do Júlia são muitas e como
num formigueiro executam diversas e importantes missões: as merendeiras, as
secretárias, as diretoras, as
funcionárias do serviço de limpeza, as professoras, as coordenadoras, as
supervisoras todas funcionando para que meninas e meninos possam se tornar
cidadãos de bem. Neste universo também encontramos as mães, que buscam nesta escola
um caminho para conduzir seus filhos.
Neste paraíso, também acontecem pequenas
tragédias, perdas, lágrimas situações complexas, mas que sempre são resolvidas
ou atenuadas pelas mulheres que não deixam nada sem uma resposta, um carinho,
uma palavra de conforto. No Júlia há muitos colos e muitos aconchegos que
amenizam grandes problemas.
Eu tive o privilégio de ser um dos
poucos homens, professores, a usufruir
de um local onde Educação é coisa séria!
Edison Borba